Dois estudos apontam para existência de potencial imunidade contra a reinfeção por SARS-CoV-2
Estes dois artigos trazem-nos alguma esperança sobre as nossas futuras interações com o vírus SARS-CoV-2. Resumidamente, no seu conjunto mostram que a infeção pelo SARS-CoV-2 pode levar a uma forte imunidade, talvez mediada por anticorpos, contra a reinfeção pelo vírus.
No primeiro artigo, um grupo de 4 macacos rhesus infectados com o vírus tornou-se resistente a nova infeção no espaço de 28 dias. Trata-se de um estudo preliminar, mas aborda diretamente uma das perguntas mais importantes por responder nesta pandemia, nomeadamente será que a população humana se vai tornar suficientemente imune ao vírus para poder voltar a uma vida normal?
O segundo artigo demonstra que as pessoas infetadas com o SARS-CoV-2 produzem anticorpos que neutralizam o vírus, o que foi verificado num teste laboratorial com células humanas em cultura. No entanto, nenhum dos anticorpos neutralizantes contra o SARS-CoV-2 conseguiram inibir os vírus SARS e MERS nestes testes. Apesar disto, é uma boa notícia que humanos infetados produzem anticorpos neutralizantes contra o SARS-CoV-2, pois é provável que estes anticorpos possam prevenir uma reinfeção. Tudo o que precisamos agora é evidência de que é este realmente o caso no decurso da pandemia.
Agora sendo um pouco mais cauteloso, os humanos não são macacos rhesus, e ainda não sabemos se as pessoas realmente se tornam imunes a reinfecção pelo SARS-CoV-2. Existem vários relatos preocupantes de que pessoas declaradas como livres do vírus ficaram doentes uma segunda vez. Isto foi inicialmente interpretado como significando que estes indivíduos não desenvolveram imunidade, mas pode muito bem significar que estas recaídas se deveram a uma nova infeção. Em segundo lugar, ainda não sabemos se os “anticorpos neutralizantes” têm efetivamente esta atividade nas pessoas. Isto pode agora ser testado injetando os anticorpos, purificados em laboratório, nas pessoas que estão infetadas com o vírus SARS-CoV-2. É possível que isto possa contribuir para eliminar o vírus do organismo.
Há portanto dois motivos de esperança. Por um a lado, parece provável que os humanos infectados venham a desenvolver uma boa imunidade contra o SARS-CoV-2. Por outro lado, é possível que um ou mais dos anticorpos neutralizantes descritos venham a ter atividade terapêutica em pessoas doentes, que por alguma razão, não tenham conseguido responder adequadamente à infeção.
Cientista autor deste texto: Jonathan Howard (IGC)
Comunicadores envolvidos na tradução e edição: Catarina Saboga e Patrícia Correia
Artigos científicos
Reinfection could not occur in SARS-CoV-2 infected rhesus macaques
Potent human neutralizing antibodies elicited by SARS-CoV-2 infection